A situação da seca no Piauí, em plena estação chuvosa, tem se agravado e preocupado autoridades e órgãos públicos. Conforme dados do Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (ANA), a irregularidade na média do acumulado de chuvas resultou na mudança da situação de leve, ainda no mês de fevereiro, para moderada nas regiões Norte e Sudeste do estado, acarretando impactos tanto a curto quanto a longo prazo.
De acordo com Sara Cardoso, coordenadora da Sala de Monitoramento e Previsão de Eventos Climáticos Extremos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), o último registro de seca em pleno período chuvoso, semelhante ao atual, havia ocorrido em 2017. Para a climatologista, a situação “fora da curva” é resultado da alteração de fenômenos naturais e das mudanças climáticas.
“A maioria dos municípios ficou abaixo da média de acumulados. Somado a isso, estamos observando altas temperaturas e baixa umidade. Isso faz com que os recursos hídricos superficiais evaporem mais rápido. Estamos passando por um momento em que deveria haver água, mas não há, o que está refletindo, inclusive, em perda de animais, produção agrícola — e isso está totalmente fora da curva”, explicou a técnica.
A preocupação é que, com a chegada do período de estiagem, o cenário se agrave ainda mais devido às altas temperaturas e à intensificação da evapotranspiração. A coordenadora da Semarh explica que os termômetros já estão marcando 40 °C em diversos municípios piauienses, que também registram baixa umidade relativa do ar mesmo antes do encerramento do período de chuvas.
“Esta semana já vimos umidade de 18%; já tivemos o primeiro episódio de 40 °C em São João do Piauí. Estamos com a expectativa de que, em algumas áreas, essa condição da seca se agrave ainda mais, porque não estamos na estiagem propriamente dita — ela começa no final do outono, para o território piauiense —, então estamos enfrentando seca dentro da estação chuvosa”, relatou Sara Cardoso.
Por conta disso, os órgãos têm intensificado as ações com o intuito de mitigar os efeitos dessa antecipação da estiagem no estado. “Precisamos de políticas públicas que assistam à população que mais precisa, que são as famílias da zona rural, o pequeno produtor, o produtor familiar, aquele que não tem acesso a tecnologias, que não tem condições financeiras", enfatizou a climatologista.